Recém-chegado de Cape Town, encontrei-me de volta à casa da minha mãe no Bairro Ferroviário.
Eu havia visto muita coisa e tinha muito por dizer!

Eu vivi 3 anos no país do Rand e lá estudei Communication Design na universidade Cape Town Creative Academy. Sentia que a minha técnica no design havia evoluído muito e já me via como um profissional no ramo. Eu me destaquei bastante como aluno pelo meu talento e era bom em Ilustração, Animação e Branding. Fora isso, sempre fui muito bom nas artes plásticas.

No entanto, eu tinha muita coisa no peito que não era capaz de expressar através dos desenhos e pinturas. Eu sentia uma necessidade de gritar e ser ouvido. Eu precisava usar a minha voz!

Eu já vinha praticando rimas antes mesmo da universidade, mas foi quando cheguei à Maputo que me sentia já pronto a levar isto à sério. Passei o ano inteiro de 2019 a escrever letras e a fazer freestyles em rodas de rima com meus amigos. Foram eles que elevaram a minha confiança e fizeram-me acreditar no meu flow. Escrevi uma pletora de músicas e abordei temas diversos, tal como o exame dos meus sentimentos no que diz respeito à situação do nosso país (Novela), as minhas inspirações, aspirações, e decepções (Zeitgeist), relacionamentos tóxicos e amores não correspondidos (Eu Falhei), dentre outros.

Foi nesta altura que conheci Dattie Capelli. Ele serviu de mentor para mim e deu-me assistência nas faixas Eu Falhei (a primeira faixa que gravei em estúdio) e também 24 (meu primeiro single que saiu um ano antes). Foi graças a ele que tudo saiu bem, pois embora eu tivesse o talento e ímpeto não tinha experiência nenhuma. Foi neste ano também que colaborei com Hyuta Cézar pela primeira vez. Enquanto Mbudzi trabalhava na captação, Hyuta se encarregou da pós-produção.

O EP "prelúdio: CHANG$" é suposto servir de introdução para um público que ainda não me conhece e também serve como introdução ao álbum CHANG$ que planejo lançar no futuro. De facto, estas são faixas que escrevi já a pensar no LP, mas que ao longo do percurso senti que devia lançar antes.
Durante a concepção do EP, eu centrei-me em Maputo quando buscava inspiração. Tomei a liberdade de prestar-me à função de filmar e editar um pacote de Lyric Videos para o YouTube para cada uma das faixas, tomando como "musa" o Ferroviário. Usei do conhecimento que colhi no estrangeiro para criar um conteúdo audiovisual único e acessível. A bocaria/depositório de lixo do Hulene acabou virando um objecto central na minha retórica e uma metáfora para os sentimentos que eu carregava. Isto é, o lugar em que as pessoas deitam as coisas que já não querem é de certo modo similar ao efeito terapêutico que a minha música tem, uma vez que nela eu descarto as bagagens que já não quero mais carregar. Este lugar é visto não só na capa do EP, mas também em alguns dos vídeos.

Tendo crescido a ouvir todo tipo de música, eu tenho um paladar eclético e uso disso para trazer diversidade às minhas composições e para criar melodias/padrões de composição inortodoxos. Inspirei-me em artistas que cresci a ouvir, tal como Negra Li e Marcelo D2, e também artistas que havia descoberto recentemente, tal como Djonga, NGA e Baco Exu do Blues. Quando adolescente, também ouvi muito ScHoolboy Q, Isaiah Rashad, A$AP Rocky, Mac Miller, Rockie Fresh, e outros. Um dos artistas que mais influenciou o projecto foi Kendrick Lamar. O seu LP GKMC expandiu a minha percepção quanto ao potencial de um álbum. Eu entendi que era possível uniformizar as faixas de um projecto e contar histórias de modo conceitual. Este aspecto foi imperativo para a estética do EP.

HOJE, o EP já passa dos 7000 plays nas plataformas de streaming - de modo independente - e é ouvido não só em Moçambique, mas também no Brasil (onde cresci), Angola, Portugal, e também em outras partes do mundo. Faixas como Eu Falhei, Opiniões, Fome de Fama, e Zeitgeist são até hoje muitíssimo consideradas pelos meus ouvintes e isso dá-me inspiração para continuar a trilha que iniciei em 2019.